A Arte da Cantaria

A Arte da Cantaria

05/05/2019 às 18h23

Na semana que comemoramos o dia do trabalhador, resolvi escrever sobre uma das mais antigas formas de trabalho, que tem tido lugar em todas as etapas da história, em todas as culturas e em todos os países e povos pelo mundo, em campos como: arquitetura, escultura, construção civil entre outros. Esta arte “labor milenar” é a cantaria – arte de talhar a Pedra.

 

Segundo o historiador marianense Diogo de Vasconcelos, as primeiras casas e capelas dos arraiais mineiros eram feitas em taipa e cobertas por folhas. Logo, porém, mestres construtores chegaram de Portugal, especificamente, da região do Douro e do Minho. Estes homens trouxeram uma técnica apurada de talhar a pedra e modificaram o estilo de construção na nossa região. Este trabalho pode ser visto nos degraus das escadas, pórticos, vergas e cunhais, pias, lavabos, frontispícios, colunas, janelas e em muitas peças que decoraram os templos, prédios e as casas das Minas do Ouro.

 

Os mestres, do norte de Portugal, transplantaram os modelos e técnicas de talhar pedras, que foram facilmente adaptadas à região das Minas Gerais, em razão da abundância de matéria prima. A arte da cantaria, em Minas, adquiriu uma peculiaridade regional graças ao uso das rochas locais e à criatividade dos mestres portugueses e dos nativos. A Cantaria Mineira deu personalidade à arquitetura setecentista e ajudou a compor o belo e original acervo que caracteriza o Barroco Mineiro.

 

Por se tratar de uma técnica relativamente onerosa de construção, a cantaria teve desenvolvimento nas vilas e cidades ligadas às riquezas do século XVIII, ou seja, à mineração do ouro, diamante e às atividades mercantis. Assim, os mais completos conjuntos arquitetônicos encontram-se em Mariana, Ouro Preto, João Del-Rei, Congonhas, São José Del-Rei (hoje Tiradentes), Diamantina e Serro, locais de morada de governadores, bispos, nobres, autoridades militares, fazendeiros e destacados comerciantes. Dentre as antigas vilas do ouro que tiveram sua arquitetura marcada pela arte da cantaria, Mariana e Ouro Preto são as que mais se destacam pela quantidade e qualidade de suas obras.

 

Em substituição à pedra lioz (calcário português), um tipo de rocha empregado na cantaria portuguesa, a cantaria desta região de Minas desenvolveu-se com o emprego, rochas locais, como quartzito, retirado da Serra do Itacolomi (ita corumim) e a Esteatita (Pedra Sabão) abundante na região. Essas rochas eram e são consideradas de excelente qualidade para uso na cantaria.

 

Com o emprego do quartzito, também conhecido como itacolomito, a cantaria ganhou formas, cores e texturas na região, mas é importante ressaltar a utilização de outras rochas, como o quartzo, que está presente, particularmente, nas obras do mestre José Pereira Arouca.

José Pereira Arouca, seu nome tem a referência de sua cidade natal, a Vila de Arouca no Norte de Portugal, lar de diversos mestres canteiros. Ele apareceu no cenário das construções na região de Mariana e Ouro Preto 1753, como aprendiz e fiador de outro grande construtor colonial, José Pereira dos Santos, na obra da Igreja de São Pedro dos Clérigos de Mariana. Desde então, Arouca ficou ligado à história administrativa, urbanística e arquitetônica de Mariana e região.

Em Mariana, desempenhou trabalhos na Igrejade São Francisco de Assis ,Igreja de São Pedro dos Clérigos, na Catedral da Sé, Igreja de Nossa Senhora do Carmo e Igreja do Bom Jesus (distrito de Furquim).

Paralelamente à construção de templos, dedicou-se às obras públicas e privadas, participou da construção e conserto de diversas pontes; em 1770 arrematou as obras da Casa Capitular (hoje Museu Arquidiocesano); construiu diversos chafarizes; participou de várias obras no Palácio dos Bispos e no Seminário de Nossa Senhora do Boa Morte, fez e reformou várias calçadas. Em 1782 foi encarregado de dirigir as obras da nova estrada entre Mariana e Vila Rica, construída a mando do governador Dom Rodrigo José de Meneses.

José Pereira Aroura foi eleito Juiz do Ofício de Pedreiro em 1762. Em 1764 foi eleito Juiz do Ofício de Carpinteiro. Em 1780 foi nomeado Porta Estandarte da Segunda Companhia do Primeiro Regimento Cavalaria Auxiliar de Mariana e, neste mesmo ano, tesoureiro da Câmara de Mariana. Em 1781, recebeu a patente de Alferes de Ordenança do distrito de Morro de Santana.

Coube a Arouca a construção da Casa de Câmara e Cadeia de Mariana, obra quem tem o projeto de José Pereira do Santos. Um dos exemplares mais importantes da arquitetura colonial mineira, a Casa de Câmara e Cadeia de Mariana ficou pronta em 1798, quando começou a ser utilizada. A arquitetura da Câmara de Mariana assemelha-se às muitas quintas nobres de Portugal e a escadaria em cantaria é idêntica as do Mosteiro da Vila de Arouca.

Segundo o historiador Diogo de Vasconcelos, Arouca foi o maior mestre em cantaria e construtor dos setecentos nas vilas do ouro das Minas Gerais.

A arte da cantaria, atualmente, perdeu muito espaço na construção de modo geral, mas na nossa região há alguns mestres canteiros. Destaca-se Rinaldo Urzedo, que ainda trabalha com a nobre arte de entalhar pedras.

Crédito da Imagem - Igreja de São Pedro dos Clérigos de Mariana - Foto: Thiago Maia


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