PROCISSÃO DO MISERERE OU PROCISSÃO DAS ALMAS
A tradicional Procissão das Almas ou, precisamente, Procissão do Miserere realiza-se anualmente em Mariana, aos cinco (5) minutos do sábado da Aleluia, pelas ruas de Mariana. Segundo o folclore marianense, encenam-se nessa procissão, duas lendas.
A primeira, recolhida e publicada pelo jornalista Prof. Waldemar de Moura Santos, resume-se no seguinte.
Lá pelos lados do bairro São Gonçalo, vivia Maricota de Todos os Santos, mulher de língua ferina que passava o dia falando da vida alheia. Por desentender-se com os moradores do referido bairro, mudou-se para a Rua Dom Silvério. Carregando má fama, fechava-se em casa durante o dia, e, à noite, tão logo ouvia o sino de correr ou de recolher tocado na Câmara, punha-se à janela, para no dia seguinte relatar aos quatros ventos tudo o que viu.
Sexta-feira da Paixão, à noite, já com calos nos cotovelos de tanto ficar debruçada na janela, ouviu o soar de um bumbo: bum..bum...bum...Pendurou-se mais e aguçou olhos e ouvidos. De repente, soar de matraca e vozes esganiçadas cantando a canção:
Reza mais {bis
Reza novena e trezena
Reza mais {bis
Pra alma que morreu sem cumprir pena!
Continuou observando e viu figuras sem rostos, vestidas de negro, carregando velas.
Uma cruz negra, ladeada de véus da mesma cor, abria o cortejo. Ao centro, a morte com a foice.
O cortejo chegou à janela, onde Maricota estava, e um dos participantes aproxima-se dela e lhe diz:
- Mulher, a noite é dos mortos. Guarde esta vela para mim. Maricota ficou felicíssima. Recuperara a confiança popular.
Retornando a procissão, outro participante aproxima-se dela e diz:
- Mulher, guarde a sua língua, amanhã estaremos juntos em outras paragens. Pegue a minha vela!
Na manhã seguinte: quando Maricota procurou a vela, encontrou um osso de canela humana.
Desmaiou! Chamaram o padre e o médico, mas Maricota havia morrido.
A segunda lenda, recolhida pela Profª Hebe Rôla, em Padre Viegas – Mariana, “ Balaio de Penas” é a seguinte:
Uma senhora cuidava de tudo na igreja local. Lá permanecia dia e noite; por isso apelidaram-na Barata de Igreja. Era secretária, faxineira, etc.
Formou-se no Colégio Providência, uma jovem fazendeira, que além de linda e educada, era muito piedosa. Noiva de importante figura local, fora convidada pelo padre, a secretariar as reuniões pastorais e a ensinar catecismo às crianças.
A velha “Barata de Igreja“ desesperou. Ninguém poderia substituí-la. Arquitetou, então, um plano para desmoralizar a honesta jovem.
Divulgou na localidade que a moça era mula sem cabeça, ou seja, namorada do padre. O boato não fez efeito. Ela intensificou o ataque. Pegou os sapatos velhos do padre e colocou-os à noite sob a cama da moça. Conseguiu então seu intento. O pai da jovem escurraçou-a, expulsou de casa. O noivo desfez o casamento. Desiludida a bela jovem transformou-se em peregrina.
Acostumada à vida confortável, vivendo ao relento e mal alimentada voltou a padre Viegas, mas não fora reconhecida pelos que a viram. Bateu à porta de uma casa e pediu água. Ao retornar, trazendo-lhe o que foi pedido, a jovem estava morta. Como qualquer estranha, naquela época, ela foi velada na igreja.
À noite, quando todos rezavam, chegou ao velório a Barata de Igreja. A Morta levantou-se, sentou-se sobre o caixão e disse:
- Está aqui entre nós quem me caluniou. Quem me matou.
- A velha caluniadeira saiu correndo e foi confessar-se.
O padre lhe deu como penitência, recolher as penas de todas as aves abatidas pelos moradores do Município de Mariana. Pressurosa, a velha catou tudo e, sorridente, foi dizer ao padre que já cumprira a penitência.
O padre lhe disse:
- Carregue todos os balaios cheios para o alto do Morro do Galego. A velha obedeceu.
- Agora to remida, né padre?
- Aguarde, disse o padre, um vento forte para espalhar as penas.
E quando a Barata de Igreja preparava-se para receber a absolvição, o padre lhe disse:
- Cate pena por pena, quando acabar, procure-me.
Por isso, na noite de sexta-feira da paixão ouve-se o caminhar de uma mulher resmungando:
- Balaio de pena pesado.
Assim, junto com a figura da morte, vai a Mulher da Pena, espalhando Pena pela cidade.
Preserve a tradição e o folclore de Mariana, eles são parte da nossa identidade!
Fontes:
Livro “Lendas Marianenses”, originalmente editado em 1966 pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais - 1967 - Editora Itatiaia.
Pesquisa 1999 – Publicada pela Professora Hebe Maria Marques rola – ICHS/UFOP – Seminário de História Local.