Mariana, berço da civilização mineira.

325 da primeira cidade de Minas

16/07/2018 às 07h03

Hoje, 16 de julho, é o aniversário de Mariana, 325 anos da história da primeira cidade das Minas Gerais. Temos que comemorar, conhecer e nos orgulhar do nosso passado, para que ele possa servir como reflexão para o futuro. A história de Mariana começa assim...

As notícias da descoberta de ouro na região conhecido com Sertão dos Cataguases, hoje Minas Gerais, se espalharam pelo Brasil e chegaram a Portugal, milhares de pessoas acorreram à região em busca de riqueza.Os bandeirantes paulistas liderados por Salvador Fernandes Furtado de Mendonça encontraram ouro em um rio batizado de Ribeirão Nossa Senhora do Carmo em homenagem a virgem do monte Carmo.O capelão da comitiva, Padre Francisco Gonçalves Lopes  ergueu o primeiro altar da terra mineira, em uma tarde de Domingo , 16 de julho de 1696.

Às suas margens nasceu o arraial de Nossa Senhora do Carmo, que logo assumiria uma função estratégica no jogo de poder determinado pelo ouro. O local se transformou em um dos principais fornecedores deste minério para Portugal.

Entre 1708 e 1710, ocorreram vários conflitos armados na zona aurífera, envolvendo de um lado paulistas e de outro portugueses e elementos vindos de vários pontos do Brasil, que é conhecido pela história como Guerra do Emboabas. Os episódios da Guerra dos Emboabas levaram a Metrópole (Portugal) a desmembrar do Rio de Janeiro a capitania constituída por São Paulo e Minas Gerais, a fim de melhor policiar a região, enviando para ao 1º povoamento em 1709 , o Arraial do Ribeirão do Carmo, o governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que ali fixou residência, conseguindo, em pouco tempo, serenar os espíritos e estabelecer a ordem.

Em 1711, sendo já considerável o desenvolvimento do arraial, um ato do citado governador, de 8 de abril, elevou-o à categoria de vila, sob a denominação de Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo de Albuquerque, nome que seria modificado, quando de sua confirmação por dom João V, em 14 de abril de 1712, para Vila Leal de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo.

Este acontecimento exigiu a implantação, segundo as determinações metropolitanas, uma  estrutura administrativa e judiciária representada pela Casa Câmara e Cadeia na Vila do Carmo. Assim em 04 de julho de 1711, foi criada a primeira Câmara das Minas  Gerais  como mesmo status da Câmara da cidade do Porto em Portugal.

A vila, em pouco tempo, transformou-se em principal centro de comércio e instrução de Minas Gerais. O sucessor de Albuquerque, Dom Brás Baltazar, encontrou várias dificuldades em solucionar a cobrança do quinto por bateia utilizada na exploração do ouro. Temendo uma guerra civil, comunicou­-se com o governo metropolitano, que ordenou fosse o imposto cobrado sobre o montante do metal extraído e sobre as indústrias e profissões. Essa providência acalmou momentaneamente os ânimos.

Retirando-se Dom Baltazar e tendo assumido o governo Dom Pedro de Almeida Portugal, Conde de Assumar, rompeu-se o equilíbrio penosamente mantido pelos seus antecessores, lavrando nos espíritos o incêndio da revolta. Assumar pede ao Rei de Portugal tropas para conter o grande fruxo de pessoas e a instabilidade da região. Em 1719, chegam a Minas Gerais duas companhias de dragões enviadas de Lisboa, que constituíram os famosos Dragões Reais de Minas ou Tropa de Dragões do conde de Assumar.  Os soldados  “Dragões”  tiveram um papel importante na  revolta de Vila Rica , motim chefiado por Filipe dos Santos, sobre o qual recaiu implacável a justiça do governador. Como decorrência desse acontecimento foi criada, a 2 de dezembro do mesmo ano. A capitania Independente de Minas Gerais.

No dia 29 de outubro de 1730, João Lopes de Lima, estabeleceu uma linha de Correio Ambulante entre Rio de janeiro- São Paulo- Minas do Ouro, afim de que, dada a extensão do crescimento demográfico da nova terra descoberta: o Eldorado mineiro que atraía numerosas caravanas de aventureiros à cata de ouro, pudesse ter melhores e mais rápidos meios de comunicação, sendo, então, Mariana o ponto convergente de todo o movimento extrativo do ouro.

Em 1745, por ordem do rei de Portugal D. João V, a  vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo foi elevada à cidade  com o nome de Mariana – uma homenagem à rainha Maria Ana D'Austria, sua esposa. Neste mesmo ano, pela bula Candor lucisaeternae, o Papa Bento XIV criou a diocese de Mariana, desmembrada do Rio de Janeiro, juntamente com a diocese de São Paulo e as prelazias de Goiás e Cuiabá. A criação dessa diocese marca novo momento na geopolítica de colonização do sertão mineiro. Com sua instalação, modificam-se as relações entre as diversas esferas do poder. Torna-se mais complexo o quadro de forças políticas configurado pela atuação das irmandades, câmaras locais, clero e autoridades.

A igreja matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição foi elevada à categoria de catedral de Nossa Senhora da Assunção. Transformando-se no centro religioso da capitania das Minas do Ouro, nesta mesma época a cidade passou a ser sede do primeiro bispado mineiro. Para isso, foi enviado, do Maranhão, o bispo D. Frei Manoel da Cruz. Sua jornada entre São Luis do Maranhão até a Mariana, realizada por terra, durou um ano e dois meses e foi considerada uma epopéia . A chegada do bispo as terras mineiras foi celebrada com a maior festa do período colonial: O Áureo Trono Episcopal – festa ocorrida em Mariana para homenagear o primeiro bispo de Minas.

Um projeto urbanístico se fez necessário, para a Primeira capital das Minas Gerais, sendo elaborado pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto de Alpoim. Ruas em linha reta e praças retangulares são características da primeira cidade planejada de Minas e uma das primeiras do Brasil.

O livro ,Temo de Mariana I, publicado pelo departamento de história da UFOP ( Universidade Federal de Ouro Preto) descreve o espaço urbano da nova cidade:

“Nesta época alguns preceitos e procedimentos da “escola” de engenharia militar portuguesa são incorporados às cartas régias, como normas a serem seguidas na fundação de cidades. Os documentos mencionam a determinação de um local para uma praça e para os principais edifícios públicos e faz-se exigências quanto a abertura de ruas, que deveriam ser “largas e direitas”, e quanto ao aspecto das moradias, “...sempre fabricadas na mesma figura uniforme pela parte exterior, ainda que na outra parte interior as faça cada um conforme lhes parecer para que desta sorte se conserve sempre a mesma formosura da Villa e nas ruas della a mesma largura que se lhes assignar na fundação”. Dom João V não fez grandes exigências em relação à forma que deveriam ter as habitações em Mariana. A idéia da época era que todas as casas fossem iguais, apesar do plano em Mariana não ser tão detalhado como em outros locais, os quais chegavam a metrificar a fachada dos edifícios.”

Em Mariana há uma exceção à regra geral das fachadas mineiras: a Rua Direita. O antigo “caminho de cima” só recebeu sua feição atual a partir de 1745, quando ele foi “arruado” (regularizado) segundo o plano de Alpoim. Havia um documento, um acórdão da câmara, o qual determinava que todos os pretendentes a edificações do lado esquerdo da rua as fizessem “de maior nobreza” dando os fundos para o Palácio de Assumar, que se tornou mais tarde residência episcopal. Assim, até hoje podemos perceber que deste lado da rua as casas têm, em geral, dois andares e sacadas, enquanto do lado oposto, são em geral, casas mais baixas, de um só pavimento.

Com a instalação da Diocese de Mariana as preocupações do clero em formar padres e a carência de um estabelecimento para o ensino levaram o Bispo Dom Frei Manoel da Cruz , em 20 de dezembro de 1750, a criar em Mariana, o Seminário Nossa senhora da Boa Morte, primeira instituição formal de ensino da capitania das Minas do Ouro.

Quando os depósitos de ouro aluvinoar ( ouro retirado de rio) começaram a escasseara, no final do século XVIII a situação econômica da região se deteriora, iniciando um período de estagnação, com predominância da economia agrícola de subsistência, em solo revolto de terras ferrosas, montanhosas e pouco produtivas, por mãos inábeis ao cultivo do solo. Em conseqüência, o enfraquecimento dos governos, o empobrecimento e a miséria da população e o abandono parcial da cidade de Mariana.

A abundância do metal, antes farto no leito dos rios, passou a ser rarefeito nos filões incrustados na rocha dura das serras íngremes, tornando difícil a extração, à luz da pouca tecnologia lusitana na colônia.

A presença da Corte Portuguesa no Brasil, a partir de 1808 e as políticas adotadas por D. João VI, introduziram profundas transformações no Sistema Colonial, uma delas foi trazer a tecnologia para mineração. Em 1811, buscando uma alternativa para a mineração de ouro em decadência, convidou a se instalar no Brasil o engenheiro alemão Willein Von Eschewege, que veio com o propósito de estabelecer uma indústria siderúrgica na região central de Minas Gerais.

Em 1817 é editada a Carta Régia escrita com a colaboração de Eschewege, que dispõe sobre os procedimentos legais para formação e funcionamento das sociedades de mineração no Brasil.

 O Barão de Eschewege, estabeleceu-se em Mariana em 1819 e aproveitando dos dados coletados por seus sócios ingleses da Geological Royal Society, adquiriu diversas frentes de lavra mineral na região, e até meados de 1821 lavrou ouro a céu aberto e iniciou a lavra de sub-solo no antigo arraial de São Vicente, hoje, Passagem de Mariana, tendo fundado ali a primeira empresa de mineração do Brasil – a Sociedade Mineralógica de Passagem.

Em 1859, a Sociedade Minerológica de Passagem, quando Eschewege cedeu seus direitos ao sócio inglês Thomas Bawden. Bawden, identificado historicamente como Senador Bawden, por sua passagem no Senado da Câmara de Mariana no final do século XIX, dedicou-se à formação do povoado de Passagem de Mariana, rompendo com a ocupação do morro de São Vicente e trazendo o núcleo urbano para mais próximo da jazida que

Neste período a mineração de ouro estava em pleno vapor, a região começou a prosperar novamente, ocorreu uma modificação significativa na educação em Mariana. O Colégio iniciou suas atividades no dia 10 de março de 1850.  É o primeiro Estabelecimento de Ensino Secundário para a juventude feminina de Minas Gerais. O Colégio é parte da obra de doze irmãs Filhas da Caridade, enviadas como missionárias para o Brasil, a pedido do Bispo de Mariana D. Viçoso.

 Mariana - Primeiro descobrimento, primeira vila, primeira cidade, primeiro bispado e arcebispado, primeira comarca judiciária, primeira câmara municipal, primeira cidade na instalação da primeira escola primária e normal, primeira Capital de Minas, primeira, finalmente, onde se instalou o primeiro Correio Ambulante, tornando-se a pioneira no setor das comunicações, em Minas Gerais.

A Cata do ouro em águas cristalinas no Ribeirão do Carmo fez surgir os primeiros povoamentos das Minas Gerais. A fé do povo e a riqueza do ouro criaram um dos mais importantes cenários da religião, cultura e arte.


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