Bandas de Mariana

Mariana : Terra das Bandas.

As tradicionais bandas de música destacam-se no cenário cultural brasileiro constituindo uma das práticas musicais mais expressivas, desde a transição entre o Brasil colônia ao período Imperial. Assim tais grupos se tornaram marcos referenciais da identidade cultural brasileira, atuantes em distintas regiões do país, não deixando de apresentar suas preciosas particularidades, frente à multiplicidade em que são encontradas por todo o país.

Minas Gerais é o estado brasileiro no qual se concentra o maior número de bandas em funcionamento, contando com aproximadamente 800 grupos civis, nos quais atuam cerca de 30 mil músicos, segundo dados da Funarte.

As bandas de música mineiras perpetuam-se no decorrer do tempo e são um registro vivo, um rico lugar de memória onde é possível estudar as transformações pelas quais a escuta musical brasileira passou.

Tais conjuntos instrumentais fizeram-se presentes de maneira essencial em muitas festividades, fossem religiosas, civis ou domésticas. Sempre expressam o sentimento de cada comunidade através de diversos gêneros musicais, entrecruzando no entretenimento as culturas do escrito; popular; nacionalista; militar e religiosa. Percebe-se que, qualquer que seja o repertório adotado, a maioria das bandas não deixa de prestigiar as obras compostas pelos mestres músicos locais. De fato, trata-se de importantes mediadores que lançam mão de seus próprios conjuntos, dotados em sua bagagem musical de elementos que exprimem aspectos singulares da cultura local e do imaginário sociocultural de suas comunidades.

Mariana, sede do bispado, foi a primeira vila, primeira e única cidade da Capitania das Minas Gerais no período colonial. A opulência econômica refletiu em muitos aspectos da constituição identitária dos moradores da sede e dos arredores, dentre tais aspectos, as artes e, de maneira muito expressiva, a música. Somaram-se as condições favoráveis para que aqui, muitos sujeitos fizessem uso da música como mecanismo de poder frente a seus respectivos grupos sociais, tendo, na maioria dos casos, a catequese como fio condutor. As habilidades técnicas da execução musical primorosa, tanto da composição, quanto na interpretação, se demonstram por meio dos documentos em papel ainda remanescentes de sua prática.

Mas, afinal, que fatores contribuíram para que Mariana chegasse ao presente sendo um dos municípios com o maior número de corporações musicais do Brasil?

Tendo sempre sido um espaço de organização social privilegiado no quesito urbanização, vale ressaltar o processo inverso que acometeu a trajetória demográfica marianense. A cidade foi, inicialmente, urbana, para só a partir do esgotamento do ouro se ruralizar, como alternativa de diversificação da economia, chegando à efetiva retomada da mineração no século XXI. No decorrer de quase 200 anos dissolveram-se, inclusive, as demarcações de terra que primeiro se associavam às da própria arquidiocese. Com isso, a paisagem sonora desse contexto que se somava em mais de 150 paróquias, chega à atual conjuntura político-geográfica, em que remanescem dez distritos e dois subdistritos.

 

Etapas subsequentes estenderam a continuidade da diversificação econômica que, na primeira metade do século XIX, ocorreu de maneira gradual. Em sua decorrência intensificaram-se as marcas da urbanização nas localidades menores do entorno. O trem chegava a Mariana e, junto dele, as novidades vindas do progresso, incluindo-se música impressa e os instrumentos para fazê-la soar. Nos distritos de Mariana ainda é possível identificar edificações cujos traços das fachadas remetem ao ecletismo do começo do século XX, momento em que a sociedade recebia, por meio dos vagões, um novo fazer tecnológico; tarefas cotidianas passavam a ser realizadas por ferramentas mecanizadas e dotadas de mais recursos.

As agremiações tornaram-se marcas do desenvolvimento urbano nos centros mais adiantados. Os trabalhadores reivindicavam seus direitos, organizavam-se os primeiros partidos políticos e sindicatos. A paisagem citadina recebia os coretos e as sociedades musicais. Nesta região a presença de guarnições militares viabilizou um referencial de performance, uma vez que as bandas militares, por terem profissionais com dedicação quase exclusiva, soavam com uma qualidade muito desejável.

Em Mariana, grupos musicais civis seguiram à risca a composição visual dos militares. Aqui conjuntos ainda foram idealizados por mestres que incorporaram a tradição musical vindas do século XVIII. Trata-se do amplo e significativo repertório de música religiosa mineira, criada predominantemente por compositores que seriam, no seu período de vida, chamados de mulatos, como Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Francisco Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto e Inácio Parreiras Neves, João de Deus de Castro Lobo, dentre outros, responsáveis pela mais significativa criação obras musicais da virada do século XVIII para o XIX. Tal produção reforçou, comprovadamente, o caráter tradicional do fazer musical nessas corporações.

Como em nenhuma outra cidade do Brasil, as Bandas de Música se proliferaram e atravessaram dezenas de anos recriando suas representações. Mariana possui hoje 11 corporações musicais em atividade, das quais, conheceremos um pouco nas páginas que se seguem.

 

Vítor Sérgio Gomes

Músico, pesquisador e professor no Museu da Música de Mariana.

 

 

 



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