A região da Capela de Sant'Ana guarda uma jóia: a antiga Chácara do Bananal de 1713, também conhecida como Casa dos Secretários pelo seu uso como residência de secretários do Governo da Capitania das Minas Gerais, como José Rabelo Perdigão, Arthur de Sá e Menezes, secretário de D. Brás Baltazar da Silveira e em 1720, Domingos da Silva, secretário de D. Pedro de Almeida e Portugal, o Conde de Assumar. Depois, passou às mãos do Capitão dos Dragões José Rodrigues de Oliveira. O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural COMPAT Mariana Minas Gerais está estudando o seu tombamento.
“Vejo o bairro de Santana de 1711, quando ali construiu a primeira casa o ex-secretário de Artur de Sá, José Rabelo Perdigão, que ficou nas Minas e foi mestre de campo, depois juiz ordinário da primeira câmara eleita em 1711”. É nesses termos que o historiador Salomão de Vasconcelos passou à sua geração, em 1947[1], a informação sobre a origem de um dos primeiros bairros e a notícia da primeira casa tricentenária de Mariana.
O bairro nasce com uma construção civil, que precedeu de nove anos a bela igrejinha de Sant´Ana, o casarão que ficou com o nome de Casa dos Primeiros Secretários. E para não deixar dúvidas, o historiador continua: “Nessa data obteve ele o terreno ali, na junção do córrego Lava-pés com o Ribeirão do Carmo, e ergueu a sua chácara, então chamada de Bananal (...) Que essa vivenda em 1713 já existia, vê-se do Liv. n. 1 de Foros e das notas do tabelião Garcia Gomes Pilo, página 71, pois em 1713 pertencia ela já ao secretário de d. Brás Baltazar da Silveira que era nessa data governador da capitania. Passou depois à propriedade do secretário do Conde de Assumar, Domingos da Silva, em 1720, indo ter finalmente às mãos do capitão dos Dragões, José Rodrigues de Oliveira, como tudo se vê dos livros citados” (p.61).
A casa construída por José Rabelo Perdigão está de pé, testemunhando, desde o primeiro momento, a histórica criação da Leal Vila do Ribeiro do Carmo, em 8 de abril de 1711, pelo Governador Antônio de Albuquerque. Tem uma frente larga, com cinco janelas e uma porta, todas em arco, como é frequente nas casas coloniais. O acesso à porta é feito por uma escada de pedra arredondada, com três degraus. No interior da casa, além de três salas, há vários quartos, uns dando para os outros, como é de praxe também nessas moradas antigas. À exceção dos quartos de hóspedes, que deviam ficar separados.
Comprada por Torquato Camêllo, o Catinho, a 7 de maio de 1951. Dessa data em diante, a família tem feito o possível para conservar o imóvel, com todas as dificuldades sabidas, pois o tempo se encarrega das pingueiras, das quedas de reboco, das ripas e caibros que apodrecem, e dos cupins, esses silenciosos e ativíssimos inimigos da História. A Casa dos Primeiros Secretários, uma das primeiras de Mariana e de Minas, encontra agora um poderoso agente adverso mais forte que todos os outros: o trânsito pesado de caminhões e carros que sobem e descem a ladeira de Santana, fazendo tremer as vetustas paredes e já provocando rachaduras internas. Se não se toma alguma providência nesse sentido, o belo monumento do século XVIII está condenado. Como pode acontecer com a linda Capela de Sant´Ana, que assiste do alto, impotente, à incúria dos homens.
E é uma pena. A Casa Tricentenária dos Primeiros Secretários documenta o tempo, a longa passagem das gerações, com suas lutas, alegrias e dores, e muitos acontecimentos que deram origem à mineiridade. Se o tempo é a medida da alma, como atestaram antigos filósofos, de modo que sem a alma não haveria tempo, na Casa habita poeticamente a alma de Mariana e de Minas. De lá ela nos fala.
Autor: Maurílio Camelo
Doutor em História Social, Professor aposentado da UFMG, Professor de Filosofia Antiga e Medieval na Faculdade Dehoniana de Taubaté.
[1] VASCONCELOS, Salomão de. Breviário Histórico e turístico da Cidade de Mariana. Belo Horizonte: Biblioteca Mineira de Cultura, 1947