Desde sua origem as associações musicais, em geral, sempre se mantiveram próximas do poder. As referências encontradas são sempre associadas à figura do rei ou do imperador, de uma irmandade religiosa ou de partidos políticos. A sua existência sempre esteve condicionada a realização de eventos e comemorações em que se fazia necessário o destaque através da música.
Não foi diferente com a União XV de Novembro. Em 1889 foi proclamada a República Brasileira. O Brasil deixou de ser um império e os ideais da filosofia positivista que exaltava a ciência e o governo baseado na “ordem e progresso” entusiasmaram a juventude civil e militar. Para muitos, o Brasil só se tornaria moderno se fosse republicano.
Para divulgar as idéias republicanas no Brasil, foram criados no início do século XX, vários instrumentos de propaganda, veículos de comunicação de massas com o intuito de divulgar as novas idéias. Havia muita resistência por parte dos monarquistas, e isso ocasionou o surgimento de várias revoltas e movimentos populares o que levou com que os militares só conseguissem consolidar a República aproximadamente cinco anos após a sua proclamação.
Nesse contexto, nasceu em Mariana, no ano de 1901, a Sociedade Musical União XV de Novembro, por iniciativa do Dr. Gomes Freire de Andrade: médico, professor, liderança política local e diretor do Partido Republicano na cidade. O objetivo claro da criação da sociedade musical foi a propaganda republicana. Na tarde do dia 15 de novembro de 1901, no seu solar, reuniu os poucos músicos da época: Antônio de Pádua Coelho, José Caetano Corrêa, Augusto Walter, Antônio Miguel de Souza, José Antônio Soares, José Ornelas Alves Pereira, para discutirem as possibilidades da formação de uma Banda de Música, cujo principal objetivo seria a sua integração nas novas forças políticas, identificadas com os idéias republicanas, cujo partido chefiado pelos adeptos fervorosos da democracia estava inteiramente ligado às correntes revolucionárias que implantaram a nova ideologia, em substituição ao regime monárquico.
Mariana foi um dos primeiros municípios que aderiram entusiasticamente às novas diretrizes democráticas do Partido Republicano, fundado aqui pelo Dr. Gomes Freire de Andrade, que elaborou o programa e estabeleceu as bases doutrinárias e liberais do estatuto partidário a vigorar em todo o município.
Os primeiros instrumentos musicais foram adquiridos da banda que pertencera ao Partido Conservador no tempo da Monarquia e o seu primeiro professor de música, Antônio Miguel de Souza, veio da corporação musical do 31º Batalhão do Exército Nacional. Iniciaram-se, em agosto de 1901, os ensaios preparatórios da nova agremiação, cujo sustentáculo estava menos nos recursos materiais do que na boa vontade e perseverança de seus componentes. Cedida graciosamente pelos herdeiros do saudoso Manoel Pereira Bernardino, uma sala de sua residência, à Rua Direita, ali se fizeram ouvir as primeiras clarinadas, que aguçavam curiosidade da vizinhança, aumentando, ao mesmo passo, a afluência da mocidade sonhadora. A primeira apresentação, três meses após a sua criação, aconteceu na porta da casa do seu principal fundador, o Dr. Gomes Freire de Andrade.
Por mais incrível que pareça, o conjunto, recém-formado, possuía o dom de arrebatar multidões, arrastando-as aos vibrantes comícios de propaganda, aliciando prosélitos e, dir-se-ia, que as adesões se multiplicavam quase milagrosamente com os acordes da Banda que, sem favor, foi a alma mater da consolidação dos ideais políticos da nova facção, dirigida pelo Dr. Gomes Freire de Andrade.
Junto com a Sociedade Musical União XV de Novembro, foi fundado, também, o jornal Rio do Carmo, desaparecido em 1903 e renascido em 1905 com o nome O Germinal. A Banda e o jornal, com os mesmos objetivos, caminhavam em parceria, sintonizados com a propaganda republicana. No jornal eram publicados os artigos em defesa dos ideais da República e noticiadas as principais ações, inclusive todos os eventos em que havia a presença da Banda da União. Na mesma época foi fundada também a Banda São José. Esta, porém, a princípio, se dedicava mais à participação de festas e ofícios estritamente religiosos.
Aos poucos a Banda foi aumentando a freqüência das suas apresentações. Em retretas e passeatas, alvoradas e homenagens a personalidades ilustres, a Banda da União estava presente em todas as comemorações cívicas, sociais e religiosas da cidade. Hoje, centenária, procura com auxílio da comunidade local e do poder público, aprimorar cada vez mais as suas apresentações. Da principal função que lhe foi dada no ato de sua criação, a propaganda republicana resta à tradição e a história musical contadas em partituras.
Firmada como tradição da cidade, a Sociedade Musical União XV de Novembro ou a “Furiosa”, apelido dado carinhosamente pela população marianenses. Seu toque, hoje completamente desvinculado da participação político-partidária, faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural da cidade de Mariana.
Parabéns União XV de Novembro!!!!
Image: Quadro Elias Layon