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Revista Fevereiro Final Final

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<strong>Fevereiro</strong> /2018<br />

Mariana<br />

<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural


A Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural é<br />

uma publicação eletrônica da Associação<br />

Memória, Arte, Comunicação e Cultural de<br />

Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar<br />

artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.<br />

A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos<br />

de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma<br />

forma leve, histórias e curiosidades que marcaram<br />

a história e a cultura da primeira cidade de<br />

Minas.<br />

Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong><br />

Belas Artes é um passo importante para a<br />

divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a<br />

cidade de Mariana. Esperamos que os textos<br />

publicados contribuam para a formação de uma<br />

consciência de preservação e incentivem a<br />

pesquisa.<br />

Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />

são de inteira responsabilidade dos autores.<br />

Colaboradores:<br />

Prof. Cristiano Casimiro,<br />

Prof. Vitor Gomes,<br />

,<br />

Agradecimentos:<br />

Arquivo Histórico da Câmara de Mariana<br />

IPHAN - Escritório Mariana<br />

Arquivo Fotográfico Marezza<br />

Museu da Música de Mariana<br />

Prof. Aldo Eustáquio Assir Sobral<br />

Mons. Flávio Carneiro<br />

Fotografias:<br />

Cristiano Casimiro e Márcio Souza<br />

Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />

Capa: Bandeira Praça Minas Gerais- Mariana -MG<br />

Associação Memória Arte Comunicação e Cultura<br />

CNPJ: 06.002.739/0001-19<br />

Rua Senador Bawden, 122, casa 02


Índice<br />

VOZES LATINAS EM MARIANA<br />

Tradução de Texto Epigráficos Latinos de Mariana<br />

DOM SILVÉRIO GOMES PIMENTA<br />

Primeiro Arcebispo de Mariana<br />

A "MARVADA" CACHAÇA<br />

A história da Cachaça em Minas<br />

07<br />

19<br />

25<br />

Cristiano Casimiro


A Deus Optimo Máximo<br />

A Ordem Terceira Seráfica, as suas expensas, cuidou que este templo fosse construído e<br />

dedicado a São Francisco de Assis, sendo Papa Clemente XIV, no Reinaldo de José I, o<br />

Reformador, O exmo. Senhor Dom Manuel da Cruz, Primeiro Bispo desta Diocese,<br />

colocou a primeira pedra no ano Salvador de 1763. Tradução Mons. Flávio Carneiro.<br />

Cristiano Casimiro


Quem é essa que desponta<br />

como a aurora<br />

Cristiano Casimiro<br />

Bela como a lua.<br />

Eletrica (vibrante)<br />

como o sol.<br />

Terrível como um exército<br />

preparado (para a batalha)


VOZES LATINAS<br />

Tradução de Texto Epigráficos Latinos de Mariana<br />

07<br />

Andando pelo centro histórico der Mariana<br />

não é difícil encontrar palavras escrita em<br />

Latim, geralmente, as palavras ou frases<br />

aparecem em emblemas ou símbolos de<br />

instituições. Nas fachadas das Igrejas e<br />

capelas, em prédios públicos, chafarizes,<br />

pontes ou em cemitérios. Muitas das vezes<br />

são pouco percebidas, mas nos mostram a<br />

importância do Latim no passado de nossa<br />

cidade e um sistema muito eficiente de<br />

comunicação usando a linguagem a arte da<br />

cantaria em pedra e da pintura.<br />

Provavelmente, estas inscrições, sirvam para<br />

explicar as passagens bíblicas, glorificar um<br />

feito histórico ou mesmo marcar a data de um<br />

monumento. Facilmente podemos observar<br />

então, que o Latim está muito vivo em nosso<br />

cotidiano, seja em qual for à relação comunicativa.<br />

A língua morta o latim não tem nada. Vejam,<br />

por exemplo, quantas expressões são usadas<br />

em Direito. Quem nunca ouviu falar de habeas<br />

corpus? De alibi? De data venia? Quem nunca<br />

mandou um curriculum vitae? Quem nunca<br />

ouviu falar de renda per capita? Ou ouviu que<br />

alguém é doutor honoris causa? Ora, isso<br />

também é latim. Essa antiga língua de Roma<br />

está nas tecnologias mais modernas, está na<br />

fecundação in vitro.. Mesmo muitas palavras<br />

importadas do inglês remontam ao latim: na<br />

Informática usa-se o verbo deletar, do inglês to<br />

delete, que vem, por sua vez, do verbo deleo<br />

em latim, que significa “destruir”.<br />

O saber latim facilita na compreensão de<br />

muitos termos presentes em textos científicos,<br />

teológicos, filosóficos e direito, além de ser o<br />

ponto de partida para muitas línguas; como,<br />

por exemplo, português, italiano, francês,<br />

romeno, espanhol, dentre outros; que são<br />

idiomas que tem sua origem no latim, porém,<br />

além destes, muitas outras línguas possuem<br />

termos provenientes de tal. Das palavras que<br />

nosso país e Portugal falam, 80% são de<br />

procedência latina.<br />

Pag.: 06 - Pintura do teto nave da Sé de Mariana Os versos são do Cânticos dos cânticos é o quarto<br />

livro da terceira seção (Ketuvim) da Bíblia hebraica e um dos livros poéticos e sapienciais do<br />

Antigo Testamento da Bíblia cristã. Quem é essa que desponta como a aurora, bela como a lua, fulgurante<br />

como o sol? Terrível como um exercito preparado. (para batalha). Tradução Mons. Flávio Carneiro.


Cristiano Casimiro


História<br />

O latim integra as línguas itálicas e seu alfabeto<br />

baseia-se no alfabeto itálico antigo, derivado<br />

do alfabeto grego. No século IX a.C. ou VIII<br />

a.C., o latim foi trazido para a península Itálica<br />

pelos migrantes latinos, que se fixaram numa<br />

região que recebeu o nome de Lácio, em torno<br />

do rio Tibre, onde a civilização romana viria a<br />

desenvolver-se.<br />

Os falantes do latim eram chamados latinos e<br />

isso se deve ao fato de eles morarem na antiga<br />

região italiana de Lácio (Latium em latim).<br />

Além desta língua, outras ainda eram faladas<br />

naquela época e naquele local, como, por<br />

exemplo, o grego; porém, como o foco aqui é o<br />

latim, vale ressaltar que este era dividido em<br />

sermourbanus e sermovulgaris, respectivamente<br />

usados pela classe alta e baixa.<br />

O Latim Popular – Vulgar não se apegava a<br />

regras gramaticais e era utilizado pelo povo e,<br />

principalmente, pelos soldados romanos. Já o<br />

Latim Clássico era uma língua erudita e estava<br />

presente entre as pessoas letradas. Como o<br />

primeiro era falado pela massa, foi ele que se<br />

disseminou e se deixava influenciar pela<br />

língua dos que o adotavam; até porque as<br />

classes inferiores da Sociedade Romana eram<br />

bastante numerosas. Enquanto o segundo<br />

manteve-se estático, tendo em vista que<br />

escritores e outros poucos usufruíam deste,<br />

pois fugia do cotidiano da maioria.<br />

Além destes dois, ainda existe uma terceira<br />

classificação, que é o Latim Eclesiástico, ou<br />

seja, a parte cristã da Língua Latina, aquela<br />

que reflete o período de expansão do<br />

Cristianismo no Império Romano. Santo<br />

Agostinho foi e ainda é um grande nome<br />

daqueles tempos e que representa tal fase.<br />

Concluindo as variações do Latim, este não<br />

pode ser acrescido de dialetos, tendo em vista<br />

que suas raízes foram acrescidas de diferenças<br />

linguísticas populares e particulares de<br />

outras línguas e, a partir destas misturas e<br />

adições, outros idiomas autônomos foram<br />

criados e transformados.<br />

Quanto à sua evolução, a Língua Latina passou<br />

por muitas mudanças. Iniciando pelo Latim<br />

pré-histórico, que vem antes dos registros<br />

escritos. Seguido pelo Latim proto-histórico,<br />

que constava nos primeiros documentos da<br />

língua. Logo vem o Latim arcaico, que não tem<br />

um vocabulário muito extenso e esteve presente<br />

em alguns textos literários. O Latim<br />

Clássico é “pai” de grandes obras literárias e<br />

sua língua é bastante erudita. O Latim Vulgar<br />

foi o falado pela maioria, ou seja, pelas classes<br />

mais baixas. <strong>Final</strong>izando com o Latim pósclássico,<br />

uma junção do quarto e quinto.<br />

A língua latina ou latim é uma antiga língua<br />

indo-europeia do ramo itálico originalmente<br />

falada no Lácio, a região do entorno da cidade<br />

de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente<br />

na Europa Ocidental, como a língua<br />

oficial da República Romana, do Império<br />

Romano e, após a conversão deste último ao<br />

cristianismo, da Igreja Católica Romana.<br />

Através da Igreja Católica, tornou-se a língua<br />

dos acadêmicos e filósofos europeus medievais.<br />

Por ser uma língua altamente flexiva e<br />

sintética, a sua sintaxe (ordem das palavras) é,<br />

em alguma medida, variável, se comparada<br />

com a de idiomas analíticos como o português,<br />

embora em prosa os romanos tendessem a<br />

preferir a ordem SOB (Sujeito, Objeto e Verbo).<br />

A sintaxe é indicada por uma estrutura de<br />

afixos ligados a temas. O alfabeto latino,<br />

derivado dos alfabetos etrusco e grego (por<br />

sua vez, derivados do alfabeto fenício), continua<br />

a ser o mais amplamente usado no mundo.<br />

Papa Clemente V - Teto da igreja de São Francisco<br />

Venerabilis Ordo -Venerável Ordem<br />

09<br />

Pag.: 08 - Na Igreja de São Francisco de Assis de Mariana há várias frases em Latim pintada no teto<br />

da Nave central. São frase retiradas do antigo testamento como do Gênesis e Eclesiastes. E<br />

referência ao Papa Honório III ( 1216-1227) que confirmou a Ordem dos Franciscanos.


Pintura do teto da Sacristia da Igreja de São Francisco de Assis atribuida a Mestre Athayde.<br />

Agonia e Morte de São Francisco de Assis<br />

Preciosa é aos olhos do Senhor a morte de seus Santos<br />

Cristiano Casimirio<br />

Cristiano Casimiro


Como a vida lancei flores dum agradágel odor: e as minhas flores dão fruto de honra e honestidade.<br />

Tradução Mons. Flávio Carneiro.<br />

O Projeto<br />

O Prof. Dr. Aldo Eustáquio Assir sobral (exprofessor<br />

da Universidade Federal de Ouro<br />

Preto) desenvolveu projeto “ Vozes Latinas<br />

dos Monumentos Sacros de Mariana e Ouro<br />

Preto”. Neste trabalho o professor catalogou<br />

diversas epígrafes (citação de um pensamento,<br />

de uma frase ou de um provérbio em Latim)<br />

que aparecem em monumentos de nossa<br />

cidade.<br />

A pesquisa do professor é inédita, pois até<br />

apresente data, não foram encontradas obras<br />

publicadas sobre o assunto, no sentido de<br />

coleta, catalogação e sistematização do texto<br />

epigráficos sobre qualquer enfoque: histórico,<br />

religioso, artístico ou literário. A pesquisa inclui<br />

tanto as inscrições em monumentos sacros<br />

quanto civis.<br />

As inscrições podem ser classificadas,<br />

segundo o professor, em: Inscrições em<br />

monumentos religiosos igrejas e oratórios<br />

(parte interna de altares, púlpitos, forros,<br />

sacristias e outros), na parte externa de<br />

edifícios (frontispícios, fachadas, inscrições<br />

tumulares em igrejas e capelas e cemitérios);<br />

Inscrições em Monumentos civis (fachadas,<br />

de instituições civis e educacionais, chafarizes,<br />

museus, pontes, placas comemorativas,<br />

brasões e objetos diversos).<br />

Foi observado pelo pesquisador que as<br />

inscrições religiosas são mensagens que<br />

aparecem pintadas ou esculpidas nos nichos<br />

dos altares, ornamentos da pintura do teto,<br />

nos púlpitos, frontispícios, sacristias e cemitérios.<br />

São cheias de esplendor, ricas em textos<br />

de recitação dos Salmos que evocam a fé, o<br />

amor e a esperança.<br />

”Estes textos adornam com muita graça e<br />

vigor o espaço que lhes é reservado e integram<br />

um conjunto harmonioso, ressaltando<br />

–lhe a qualidade estética pela mensagem que<br />

o acompanha. A Composição dos textos<br />

latinos sacros é recheada de Antífonas,<br />

Versículos, Hinos e outras modalidades<br />

litúrgica” explica professor Aldo Sobral.<br />

A preservação deste material é muito importante,<br />

pois muita registro , devido ao tempo,<br />

estão apagando ou e estado de deterioração<br />

do suporte ( pedra , madeira, do coloração da<br />

pintura), como o caso específico das pinturas<br />

da Igreja de Nossa Senhora Rainha dos Anjos<br />

Confraria de São Francisco dos Cordões que<br />

não há condições de leitura das inscrições<br />

devido ao estado da pintura.<br />

A catalogação, registro e tradução já foi feita,<br />

para o ano de 2018 o professor Aldo Sobral<br />

pretende lançar um livro ilustrado e explicativo<br />

sobre o tema.<br />

”Trazer as informações destes epigramas e<br />

traduzir, corretamente , esses textos para a<br />

população de Mariana e Minas é mostrar ,<br />

mais umas das riquezas da cultura Mineira”<br />

finaliza o Prof . Aldo Sobral.


Pintura no interior da Igreja de São Francisco de Assis.<br />

Quem come o meu corpo, e bebe o meu sangue (diz Cristo) está em mim, e eu estou nele.<br />

Cristiano Casimiro


Tipos de Epígrafos Encontrados<br />

13<br />

A Epigrafia latina é um ramo da Epigrafia que<br />

estuda as inscrições romanas em materiais<br />

mais duráveis como pedra, metal, argila e<br />

outros escritas na língua latina.<br />

Existem quatro tipos de epígrafes: as epígrafes<br />

funerárias, dedicadas aos mortos; as<br />

epígrafes votivas ou religiosas, dedicadas aos<br />

deuses; as epígrafes honoríficas, dedicadas a<br />

uma figura importante, como um imperador por<br />

exemplo; e por último as epígrafes monumentais,<br />

que estão presentes em monumentos.<br />

Essas quatro categorias podem estar juntas<br />

em uma mesma epígrafe, como por exemplo<br />

uma epígrafe que é monumental e ao mesmo<br />

tempo honorífica: uma epígrafe presente em<br />

um monumento de algum imperador cujo<br />

conteúdo é dedicado especificamente a ele se<br />

torna também uma epígrafe honorífica.<br />

Epígrafe funerária<br />

São as epígrafes mais abundantes. Os principais dados<br />

geralmente presentes nas inscrições funerárias são a<br />

invocação dos deuses manes; seguido da identificação<br />

do morto junto com a idade em que o dedicado veio a<br />

falecer; em seguida a identificação dos dedicantes<br />

seguida de "F(aciendum) C(uravit ou uraverunt)", que<br />

significa "mandou ou mandaram fazer"; por fim encontrase<br />

as inscrições "H. S. E." (aqui jaz) (terra lhe seja leve).<br />

Em Mariana existem várias, principalmente, na<br />

cripta dos Bispos e Arcebispos na Sé de<br />

Mariana, na Capela de Nossa Senhora da Boa<br />

Morte e em outras Igreja e capelas. Abaixo<br />

Epígrafe do túmulo de Monsenhor Horta na<br />

Igreja de Nossa Senhora das Mercês.<br />

Cristiano Casimiro<br />

Afligiu-se pelos carentes que sempre deviam ser alimentados/<br />

Alcançou todos os páramos celestes/<br />

Os corações saúdam aquele ( ali foi) acolhido depois da morte.<br />

Tradução Mons. Flávio Carneiro


Cristiano Casimiro


Cristiano Casimiro<br />

Epígrafe honorífica<br />

15<br />

ja a descrição abaixo)Os elementos<br />

encontrados nas epígrafes honoríficas são a<br />

identificação do dedicado acompanhado das<br />

inscrições dos cargos em que ocupou,<br />

podendo ou não possuir elogios sobre o seu<br />

trabalho, em seguida o motivo da homenagem,<br />

também há a identificação dos dedicantes e de<br />

que forma obtiveram fundos para a construção<br />

da epígrafe; no final pode haver ou não uma<br />

inscrição que mostra a intervenção direta das<br />

a u t o r i d a d e s m u n i c i p a i s " D ( e c r e t o )<br />

D(ecurionum)", ou, pode conter as seguintes<br />

inscrições "H(onore) C(ontentus) I(mpensam)<br />

R(emisit)" que demonstram o contentamento<br />

do homenageado, levando-o a pagar as<br />

despesas da construção da epígrafe.<br />

Um exemplo é a pedra fundamental do<br />

Seminário São José de Mariana. Este epífrafe,<br />

que está na parte externa do prédio do<br />

Seminário, feito em esteatito ( pedra sabão)<br />

possui um enigma. O Padre Pedro Sarnell<br />

usou da matemática e de muita habilidade<br />

lingüística para inserir a data pedra fundamental<br />

do seminário em no texto em Latim. Os<br />

numerais romanos são ,também, letras, assim<br />

o padre Sarnnel , sutilmente, colocou algumas<br />

letras maiores que as outras. Separando<br />

somente as letras que são proporcionalmente<br />

maiores, podemos achar por duas vezes o<br />

número 1928, data da colocação da pedra<br />

fundamental. ( veja arte abaixo)<br />

Esta pedra colocou Helvécio, interessado em bons abrigos<br />

Aqui o aluno será nutrido com o alimento sagrado<br />

Tradução Mons. Flávio


Cristiano Casimiro


17<br />

Epígrafe monumental<br />

Os elementos encontrados nesse tipo de epígrafe geralmente são as circunstâncias, as datas,<br />

as pessoas ligadas, e a divindade que estão homenageando na construção do monumento.<br />

Inscrições Latinas em Brasões e Bandeiras<br />

A heráldica refere-se simultaneamente à<br />

ciência e à arte de descrever os brasões de<br />

armas ou escudos. Na Idade Média, principalmente<br />

na época da cavalaria, os escudos<br />

passaram a simbolizar famílias, dinastias,<br />

territórios e feudos, tanto na guerra como na<br />

paz. Mais tarde, as propriedades, palácios e<br />

objetos de família passaram a ostentar os<br />

brasões de seus senhores, como símbolo de<br />

poder, de nobreza, ou como mero distintivo,<br />

símbolo de identidade. Com essa última<br />

função passaram, os brasões, a distinguir<br />

ordens religiosas, bispados, cidades e instituições.<br />

Uma das partes do Brasão e a Divisa (Divisa:<br />

é o lema da entidade representada. É colocado<br />

num listel, sob o escudo). Um listel em<br />

heráldica é uma pequena bandeirola ou<br />

flâmula que se localiza por cima ou por baixo<br />

do escudo de um brasão de armas. Possui<br />

geralmente a cor branca, e contém dizeres<br />

chamados de grito de guerra ou grito de<br />

armas - uma palavra ou frase curta (interjeição)<br />

de incentivo ao combate ou à ação. Estes<br />

dizeres são muitas vezes escritos em latim.<br />

Cristiano Casimiro<br />

Os Brasões acima são de bispos de Mariana, o primeiro é de Dom Luciano : IN NOMINE IESU -<br />

Em nome de Jesus, (Localizado na Casa do Brarão de pontal na rua direita) o outro é de<br />

Dom Helvécio: SVSTINVIT CRVCEM - Sustentou a Cruz ( Aparece duas vezes: a Primeira no<br />

seminário Saão José e a outra no antigo noviciado na rua Dom Silvério)<br />

As Bandeiras de Minas e de Mariana, também,<br />

possuem inscrições latinas. O Brasão de nossa cidade que<br />

aparece na bandeira de Mariana tem a seguinte inscrição:<br />

Urbs mea cellula mater – A minha cidade é célula-mãe.<br />

A bandeira de Minas possui a seguinte frase:<br />

Libertas quæ sera tamen - Liberdade ainda que tardia


Foto Colégio Marista Dom Silvério


Dom Silvério Gomes Pimenta<br />

O Primeiro Arcebispo de Mariana.<br />

19<br />

Neste ano de 2018, a <strong>Revista</strong> Mariana<br />

Histórica e Cultural apresentará uma série de<br />

materiais sobre personagens ilustre que<br />

nasceram ou viveram em Mariana. Na nossa<br />

cidade uma das principais ruas e uma das<br />

mais famosas escolas homenageiam Dom<br />

Silvério Gomes Pimenta o Primeiro Arcebispo<br />

de Mariana.<br />

Nascido em Congonhas do Campo, Dom<br />

Silvério foi sacerdote, professor, orador sacro,<br />

poeta, biógrafo, prelado, bispo e arcebispo de<br />

Mariana.<br />

A história de vida deste importante personagem<br />

da nossa história pode ser comparada a<br />

um filme hollywoodiano, nascido em 12 de<br />

janeiro de 1840 em uma família humilde, seu<br />

foi Antônio Alves Pimenta e sua mãe D.<br />

Porcina Gomes de Araújo.De família de<br />

ascendência africana, com seus quatro<br />

irmãos, passou por especiais dificuldades,<br />

sobretudo depois do falecimento de seu pai.<br />

Um tio consegue que ele vá estudar no colégio<br />

dos padres lazaristas em sua terra natal,<br />

Congonhas. Arrimo de família, aos doze anos<br />

foi trabalhar em uma casa de comércio.<br />

Estudava à noite, à luz de lamparina. O colégio<br />

onde estudava fechou. Silvério interrompe<br />

seus estudos e emprega-se em uma sapataria.<br />

Recorre então a seu padrinho, Dom<br />

Viçoso, Bispo de Mariana, que o leva o menino<br />

de 14 anos para o seminário Nossa<br />

Senhora da Boa Morte em Mariana, pois o<br />

desejo de ser padre e sua vida de piedade o<br />

recomendavam como um vocacionado de<br />

grande valor. Dotado de privilegiada inteligência<br />

dedicou-se aos estudos e à vida espiritual<br />

causando admiração em seus colegas e<br />

formadores. Por ser pobre, trabalhou como<br />

porteiro do seminário durante, depois como<br />

professor de Latim, cadeira que ocupou<br />

durante 28 anos. Além de Latim, foi professor<br />

de Filosofia e História Universal.<br />

Foi ordenado padre, por D. Viçoso, aos 22<br />

anos, em 1862, na matriz de Sabará. Em 1864<br />

foi à Europa, enviado por D. Viçoso. Em 1874,<br />

ao falecer esse ilustre bispo, o padre Silvério<br />

foi eleito vigário capitular, governando a<br />

diocese até 1877. No ano seguinte, D. Antônio<br />

Correa de Sá e Benevides, sucessor de D.<br />

Viçoso, escolheu-o para vigário geral e<br />

magistrado eclesiásticodo bispado. Como D.<br />

Benevides estivesse sempre doente, D.<br />

Silvério foi durante muito tempo o<br />

sustentáculo do bispado, até que em 26 de<br />

junho de 1890 foi nomeado bipo auxiliar de<br />

Mariana. Foi sagrado em São Paulo por D.<br />

Pedro Maria de Lacerda, em 31 de agosto de<br />

1890. Foi o primeiro bispo sagrado depois de<br />

proclamada a República.Participou do<br />

Concílio Plenário Latino Americano em Roma<br />

(1899).<br />

Desde então, começou a escrever suas<br />

célebres cartas pastorais. A primeira pastoral<br />

traz a data de 24 de novembro de 1890 e a<br />

última é de 10 de fevereiro de 1922.<br />

Com a morte de D. Benevides, em 1896,<br />

sucedeu a ele no bispado de Mariana. Em 16<br />

de maio de 1897, já transferido de bispo titular<br />

para efetivo de Mariana, fez sua entrada<br />

solene na catedral dessa cidade. Nesse ato<br />

tomaram parte o governador do Estado, Dr.<br />

Bias Fortes, e outros representantes do<br />

governo estadual.<br />

Em 1906, o papa Pio X elevou a diocese de<br />

Mariana a arquidiocese e o respectivo bispo,<br />

D. Silvério, a arcebispo. O Cardeal Arcoverde<br />

oficiou a cerimônia de imposição do pálio ao<br />

novo arcebispo, tendo feito a oração<br />

gratulatória o bispo de Petrópolis, D. João<br />

Francisco Braga.<br />

Papa Pio X que elevou a Diocese de<br />

Mariana a Arquidiocese em 1906,


21<br />

A Diocese de Mariana era quase todo o Estado<br />

de Minas. Dom Silvério dedicou-se incansavelmente<br />

ao pastoreio, através das visitas pastorais.<br />

O veículo era o lombo do animal. Mas sua<br />

atuação não se restringiu à Arquidiocese de<br />

Mariana. Participou de uma Conferência<br />

Episcopal em São Paulo, no início de século<br />

XX, "tendo sido encarregado de redigir seu<br />

famoso "Catecismo", obra completa e profunda,<br />

publicada em 1903 e adotada por mais de<br />

cinquenta anos em dioceses do Brasil" e<br />

também em outros países. Homem de rara<br />

cultura, Dom Silvério promoveu em Minas a<br />

vida espiritual do povo e cuidou de criar colégios<br />

para educação da juventude. Desfrutava de<br />

grande prestígio em Roma que ele visitou por<br />

mais de uma vez. De Leão XIII ele ganhou uma<br />

foto com os dizeres: "Ao nosso venerável<br />

irmão Silvério Gomes Pimenta, bispo de<br />

Mariana, cujos serviços grandiosamente<br />

prestados à Diocese nos são conhecidos,<br />

como penhor de nossa benevolência, do<br />

íntimo da alma lhe concedo a bênção apostólica".<br />

A personalidade literária de D. Silvério ficou<br />

marcada por seus livros e cartas pastorais,<br />

gozando o arcebispo acadêmico da fama de<br />

poliglota, conhecedor que era do Latim, Grego,<br />

Hebraico, além das línguas vivas que usava<br />

correntemente. Publicou poesias em Latim.<br />

Sua obra maior é a Vida de D. Viçoso. Como<br />

jornalista, D. Silvério fundou e dirigiu, vários<br />

jornais em Mariana, O Bom Ladrão, O Viçoso,<br />

O D. Viçoso e o D. Silvério, editados sob sua<br />

orientação e dirigidos pelos padres Severiano<br />

de Resende e Luís Espechit.<br />

Os versos latinos, as cartas pastorais e os<br />

artigos na imprensa granjearam-lhe fama,<br />

sendo comparado ao padre Manuel Bernardes<br />

e a Frei Luís de Sousa. E foi esse renome que o<br />

levou à Academia Brasileira de Letras.<br />

. Segundo ocupante da cadeira 19, foi eleito<br />

em 30 de outubro de 1919, na sucessão de<br />

Alcindo Guanabara, e recebido pelo acadêmico<br />

Carlos de Laet em 28 de maio de 1920. Foi o<br />

primeiro prelado brasileiro com assento entre<br />

os escritores consagrados pela Academia<br />

Brasileira de Letras.<br />

Obras<br />

Ÿ O papa e a revolução, sermões (1873)<br />

Ÿ Peregrinação a Jerusalém (1897)<br />

Ÿ D. Antônio Ferreira Viçoso, bispo de<br />

Mariana, conde da Conceição (1876)<br />

Ÿ A prática da confissão, estudos de moral e<br />

dogma (1873)<br />

Ÿ Cartas pastorais 1890-1922.<br />

Também produziu diversos sermões, orações,<br />

conferências, poesias latinas em periódicos.<br />

Muito batalhou pela imprensa, com livros e<br />

jornais (O Viçoso, Boletim Eclesiástico). À<br />

custa de muitoempenho, conseguiu a preciosa<br />

colaboração de religiosos que foram bem<br />

acolhidos no bispado.Sagrou bispos e ordenou<br />

207 padres. Com muitas iniciativas, lutou<br />

para melhorar o patrimônio daArquidiocese,<br />

visando sobretudo a manutenção do<br />

Seminário. Seu nome permanece ainda<br />

ornado demerecida honra e respeito.<br />

Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues<br />

Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues é arcebispo<br />

metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba<br />

Arcebispo de Mariana Dom Silvério<br />

A antiga Rua Nova traçada por Alpoim, que é uma das principais do centro histórico, hoje<br />

Rua Dom Silvério, foi uma das homenagens da cidade de Mariana ao seu primeiro Arcebispo


Marezza Photo - Arquivo


23<br />

Homenagens<br />

A Importância de Dom Silvério é ímpar para<br />

história de Minas e do Brasil. Citamos abaixo<br />

algumas das homenagens feitas a este educador<br />

, religioso e exemplo de superação:<br />

Colégio Dom Silvério Sete Lagoas<br />

O Colégio Dom Silvério, referência na cidade<br />

de Sete Lagoas, iniciou suas atividades em<br />

1922. Seus objetivos, sua missão e seu ideal<br />

nasceram com o ardor missionário de<br />

Monsenhor Messias de Sena Batista e estenderam-se<br />

ao longo de nove décadas. O<br />

Colégio nasceu sob o entusiasmo cívico vivido<br />

por ocasião do Centenário da Independência<br />

do Brasil, e foi chamado inicialmente de<br />

Colégio Eucarístico da Independência. Em 20<br />

de agosto de 1926, já em sua sede própria, o<br />

colégio teve seu nome enriquecido pela caracterização<br />

que o identifica no tempo atual como<br />

Colégio Diocesano Dom Silvério, em homenagem<br />

ao grande educador e dedicado apóstolo<br />

da Igreja, Dom Silvério Gomes Pimenta.<br />

Colégio Marista Dom Silvério<br />

O Colégio Marista Dom Silvério é um colégio<br />

católico de Belo Horizonte, fundado e mantido<br />

pelos Irmãos Maristas. Localizado no bairro<br />

São Pedro, o colégio tem cerca de 3 mil alunos.<br />

O nome da instituição homenageia o antigo<br />

Bispo de Mariana (MG), Dom Silvério Gomes<br />

Pimenta, que trouxe para o Brasil a congregação<br />

dos Maristas, fundada na França por São<br />

Marcelino Champagnat.<br />

EE Dom Silverio - Crucilandia<br />

Localizada na Rua Nossa Senhora De<br />

Lourdes, 150, Centro. na cidade de Crucilandia<br />

é uma escola da rede estadual possui 500<br />

alunos no Ensino Fundamental II e Ensino<br />

Médio.<br />

Tributo a Dom Silvério - Congonhas do Campo<br />

A Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em<br />

parceria com as secretarias municipais de<br />

Educação e Cultura da cidade de congonhas,<br />

realizam o desde 2012 o Tributo a Dom<br />

Silvério como parte das comemorações pelo<br />

Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado<br />

em 20 de outubro.<br />

Cidade de Dom Silvério<br />

Em 1873, a pequeno povoado pertencente a<br />

Alvinópolis foi era elevado à categoria de<br />

distrito com o nome de Nossa Senhora da<br />

Saúde. No local onde se ergueu a primeira<br />

capela, sob a invocação de Nossa Senhora da<br />

Saúde. Em 1938 o então distrito de Saúde,<br />

teve seu nome modificado para Dom Silvério,<br />

em homenagem a Dom Silvério Gomes<br />

Pimenta, uma das glórias do Episcopado<br />

b r a s i l e i r o e s e g u n d o A r c e b i s p o d a<br />

Arquidiocese.<br />

Dom Silvério e os Maristas<br />

Há 121 anos, os primeiros Irmãos Maristas<br />

chegavam ao Brasil para iniciar os trabalhos de<br />

educação e evangelização em Congonhas do<br />

Campo em 18 de outubro de 1897, a convite de<br />

Dom Silvério Gomes Pimenta, bispo de<br />

Mariana (MG), para que os Irmãos pudessem<br />

assumir uma obra educativa na diocese – o<br />

Colégio Bom Jesus da Cidade. hoje a educação<br />

Marista está em todo o Brasil e é considerada<br />

de excelência.<br />

Escola Estadual Dom Silvério de Mariana.<br />

Um patrimônio da educação da cidade de<br />

Mariana, Idealizado pelo irmão scerdotes<br />

Paulo e Vicente Dilascio. É uma das homenagem<br />

de Mariana ao Bispo e Arcebispo Dom<br />

Silvério.<br />

Busto de Dom Silvério Gomes Pimenta na Escola Estadual Dom Silvério em Mariana


Cachaças Feira Mart- Cristiano Casimiro


A "Marvada" Cachaça<br />

História da nossa cachaça<br />

25<br />

Registros existentes indicam que os primeiros<br />

a saborear algo parecido com um destilado<br />

foram os Egípcios. O que eles faziam era curar<br />

um eventual mal-estar, inalando vapor de<br />

líquidos aromatizados e fermentados, absorvido<br />

diretamente do bico de uma chaleira, num<br />

ambiente fechado.<br />

Já os Gregos, no Tratado de Ciência escrito<br />

por Plínio, que viveu entre os anos 23 e 79<br />

d.C., registram o processo de obtenção da<br />

acquaardens – a “água que pega fogo” –<br />

absorvendo, com um pedaço de lã, o vapor da<br />

resina de cedro, do bico de uma chaleira. Ao<br />

torcerem a lã, obtinham o líquido chamado<br />

alkuhu. Os alquimistas da época atribuem à<br />

bebida propriedade medicinal e mística,<br />

transformando-a em “água da vida”. A expansão<br />

do império Romano leva a água ardente<br />

por toda a Europa e para o Oriente Médio. A<br />

aguardente, então, vai da Europa para o<br />

Oriente Médio, pela força da expansão do<br />

Império Romano. São os árabes que descobrem<br />

os equipamentos para a destilação,<br />

semelhantes aos que conhecemos hoje. Eles<br />

não usam a palavra al kuhu e sim al raga,<br />

originando o nome da mais popular aguardente<br />

da península Arábica: arak, uma aguardente<br />

misturada com licores de anis e degustada<br />

com água. A tecnologia de produção espalhase<br />

pelo Velho e pelo Novo Mundo. Na Itália, o<br />

destilado de uva fica conhecido como grapa.<br />

Em terras Germânicas, se destila a partir da<br />

cereja o Kirsch; na antiga Tchecoslováquia,<br />

atualmente dividida em República Tcheca e<br />

República Eslovaca, a destilação da Sleva<br />

(espécie de ameixa) gera a slevovice . Na<br />

Escócia, se populariza o whisky, destilado da<br />

cevada sacarificada. No Extremo Oriente, a<br />

aguardente serve para esquentar o frio das<br />

populações que não fabricam vinho. Na<br />

Rússia a vodca, de centeio. Na China e no<br />

Japão, o saquê, produzido a partir da fermentação<br />

do arroz, é frequentemente confundido<br />

com uma aguardente devido ao seu elevado<br />

teor alcoólico, mas é, na verdade, um vinho.<br />

Portugal também absorve a tecnologia dos<br />

árabes e destila, a partir do bagaço de uva, a<br />

bagaceira. A História da Cachaça Presente<br />

nos mapas dos navegantes europeus desde<br />

fins do século XV, o Brasil foi quase esquecido<br />

nas primeiras décadas do século XVI pela<br />

Coroa portuguesa, que não dispunha nem de<br />

gente suficiente no Reino para uma obra de<br />

colonização no vasto territó- rio d'além-mar.<br />

Com isso, a costa brasileira era visitada indistintamente<br />

por aventureiros – italianos, holandeses,<br />

franceses, espanhóis... – que se<br />

dedicavam à coleta de pau-brasil, sempre<br />

negociando com os índios. A partir da terceira<br />

década do século, no entanto, uma circunstância<br />

especial ajudaria a definir o futuro lusitano<br />

das terras do Brasil: a necessidade de produzir<br />

mais açúcar, que alcançava naquele momento<br />

o status de “ouro branco”. O uso do açúcar, até<br />

fins do século XV restrito à nobreza, tinha se<br />

disseminado por toda a Europa e atingido<br />

novas classes a partir do sucesso de sua<br />

cultura na ilha da Madeira, iniciada na primeira<br />

metade do Quatrocentos. Mas Funchal, capital<br />

da ilha, era um porto de relativamente fácil<br />

acesso, no qual muitos comerciantes de todas<br />

as nacionalidades negociavam a doce mercadoria,<br />

e se tornara de difícil controle para a<br />

Coroa. Isso, em muitas oportunidades, levava<br />

a um descontrole no abastecimento que<br />

afetava as cotações do produto. Além disso, o<br />

terreno do arquipélago era pedregoso e as<br />

propriedades tinham tamanho limitado, o que<br />

dificultava a cultura mais extensiva da cana.<br />

Convinha buscar novas terras que se prestassem<br />

a produzir o açúcar que era usado ao<br />

natural ou em conservas que encantavam,<br />

sobretudo, os flamengos. A busca por novas<br />

áreas para desenvolver a cultura da cana-de--<br />

açúcar foi um dos fatores que levaram a Coroa<br />

portuguesa a procurar um modelo de povoamento<br />

para o Brasil, que tinha, ao longo de<br />

toda a sua costa, as condições favoráveis para<br />

que a gramínea vicejasse: altas temperaturas,<br />

solos ricos e fartura de água. Regiões<br />

como São Vicente, Pernambuco e o<br />

Recôncavo Baiano são muito rapidamente<br />

ocupadas por engenhos e vastas plantações.<br />

A expedição de Martim Afonso que aportou em<br />

1531 no Brasilcomo se sabe, trouxe mudas de<br />

cana e especialistas agrícolas. E, muito provavelmente,<br />

trouxe um dos primeiros alambiques<br />

do Novo Mundo, talvez um que já tivesse<br />

produzido aguardente de uva, mel ou cana nas<br />

Canárias, ponto de passagem da esquadra do<br />

fidalgo e provável origem das primeiras mudas<br />

de cana dessa primeira iniciativa organizada<br />

de produção canavieira em larga escala no<br />

Brasil.


Divulção Dia da Cachaça<br />

Cronologia<br />

1493: Início da cultura da cana na IslaIspaniola<br />

no Caribe 1504: Primeira plantação de cana<br />

na Ilha de Fernando de Noronha 1516:<br />

Instalação do primeiro engenho de açúcar no<br />

Caribe e criação das Feitorias de Itamaracá,<br />

Igarassu e Santa Cruz e início da cultura da<br />

cana em Pernambuco. É muito provável que a<br />

Cachaça tenha sido destilada (intencionalmente)<br />

pela primeira vez, entre 1516 e 1526,<br />

em algum engenho estabelecido na Feitoria<br />

de Itamaracá, que mais tarde, a partir de 1534,<br />

veio a se transformar na Capitania de<br />

Itamaracá, no atual litoral pernambucano.<br />

1526: Chegada de carregamento de açúcar,<br />

vindo de Pernambuco, na alfândega de Lisboa<br />

1532: Início da plantação de cana em São<br />

Vicente e a construção dos primeiros engenhos<br />

de açúcar 1534: Início da plantação de<br />

cana na Capitania de Pernambuco Primórdios<br />

do XVI O caldo era apenas consumido pelos<br />

escravos, para que ficassem mais dóceis ou<br />

para curá-los da depressão causada pela<br />

saudade de sua terra (banzo). Como a carne<br />

de porco era dura, usava-se a aguardente<br />

para amolecê-la. Daí o nome “Cachaça”, já<br />

que os porcos criados soltos eram chamados<br />

de “cachaços”. O apelido “Pinga” veio porque<br />

o líquido “pingava” do alambique. 2ª metade<br />

do Século XVI Passou a ser produzida em<br />

alambiques de barro, depois de cobre, como<br />

aguardente. Século XVII Com o aprimoramento<br />

da produção, passou a atrair consumidores.<br />

Começou a ter importância econô- mica e<br />

valor de moeda corrente. Ano de 1635<br />

Contrariado com a desvalorização de sua<br />

bebida tí- pica, a Bagaceira, produzida do<br />

bagaço da uva, Portugal poibiu a fabricação da<br />

Cachaça e seu consumo na colôna brasileira.<br />

Menos a metade do Século XVII A retaiação à<br />

Cachaça provou o nacionalismo brasileiro,<br />

lvando o povo a boicotar o vinho Português.<br />

Fial do Século Portugal recuou quanto à<br />

decisão de proibir o consumo da Cachaça<br />

brasileira e decidiu apenas taxar o destilado.<br />

Ano de 1756 A aguardente da cana-de-açúcar<br />

era um dos gêneros que mais contribuía para a<br />

reconstrução de Lisboa, abalada por terremoto<br />

em 1755. Ano de 1789 A Cachaça virou<br />

símbolo da resistência ao domínio português.<br />

O último pedido de Tiradentes: “Molhem a<br />

minha goela com cachaça da terra”. Início do<br />

Século XIX Com as técnicas de produção<br />

aprimoradas, a Cachaça passou a ser muito<br />

apreciada. Era consumida em banquetes<br />

palacianos e misturada a outros ingredientes,<br />

como gengibre, o famoso Quentão. Depois da<br />

metade do Século XIX Com a economia<br />

cafeeira, abolição da escravatura e início da<br />

República, um largo preconceito se criou<br />

frente a tudo que fosse brasileiro, prevalecendo<br />

à moda da Europa. A Cachaça estava em<br />

baixa. Ano de 1922 A Semana da Arte<br />

Moderna resgatou a nacionalidade brasileira.<br />

A Cachaça ainda tentava se desfazer dos<br />

preconceitos e continuava a apurar sua qualidade.<br />

Depois da metade do Século XX A<br />

Cachaça teve influência na vida artística<br />

nacional, com a “cultura de botequim” e a<br />

boemia. Passou a ser servida como bebida<br />

brasileira oficial nas embaixadas, eventos<br />

comerciais e voos internacionais. A França<br />

tentou registrar a marca Cachaça, assim como<br />

o Japão tentou a marca Assai. Século XXI A<br />

Cachaça está consagrada como brasileiríssima,<br />

é apreciada em diversos cantos do mundo<br />

e representa nossa cultura, como a feijoada e<br />

o futebol. Em alguns países da Europa, principalmente<br />

a Alemanha, a Caipirinha de<br />

Cachaça é muito mais consumida que o<br />

tradicional Scott. A produção brasileira de<br />

Cachaça já ultrapassa os 1,3 bilhões de litros e<br />

apenas 0,40% são exportados. A industrialização<br />

da Cachaça emprega atualmente no<br />

Brasil mais de 450 mil pessoas. O Decreto<br />

4.702 assinado em 2002 pelo presidente FHC,<br />

declara ser a Cachaça um destilado de origem<br />

nacional. O Dia 13 de setembro é considerado<br />

o DIA NACIONAL DA CACHAÇA.<br />

Texto Baseado em A história da Cachaça de Jairo Martins da Silva<br />

www.engenhosaopaulo.com.br/wp.../historia-da-cachaca-engenho-sao-paulo.pdf<br />

26


Cachaças Feira Mart- Cristiano Casimiro


28<br />

A Cachaça em Mariana<br />

Depois dos séculos XVI e XVII, em que houve<br />

significativa multiplicação dos alambiques nos<br />

engenhos de São Paulo e Pernambuco, a<br />

cachaça se espalhou pelo Rio de Janeiro e<br />

Minas Gerais devido à descoberta do ouro e<br />

pedras preciosas. Durante o século XVIII a<br />

economia do açúcar entra em decadência e<br />

passa então a ser substituída pela extração de<br />

ouro em Minas Gerais. No início da migração<br />

para Minas, as cachaças brancas (puras) eram<br />

colocadas em barris de madeira para serem<br />

transportadas até Minas Gerais. No tempo da<br />

viagem, a cachaça, pelo contato com a madeira,<br />

acabava amarelando e tomando aromas e<br />

sabores próprios. Há quem diga que daí que<br />

surgiu o hábito de envelhecer e armazenar<br />

cachaças em barris de madeira. Hoje, podemos<br />

observar que em cidades litorâneas,<br />

como Paraty, há um predomínio de produção<br />

de cachaças brancas, enquanto que em Minas<br />

Gerais, os produtores optam sempre por<br />

armazenar suas cachaças em barris para que<br />

elas adquiram características sensoriais,<br />

como cor e sabor, provenientes da madeira.<br />

Nas regiões de extração estavam também os<br />

pequenos alambiques que abasteciam a<br />

florescente população urbana que tentava<br />

enriquecer com a mineração, apesar dos<br />

impostos cobrados pela metrópole portuguesa.<br />

A tese de doutorado da professora Quelen<br />

Ingrid Lopes: O mercado de bens rurais,<br />

extrativos e urbanos do termo de Mariana:<br />

interações sociais, econômicas e espaços de<br />

produção (1711-1779), demonstra que os<br />

engenhos produtores de aguardente estiveram<br />

presentes pelo termo de Mariana desde os<br />

principais núcleos de mineração até as áreas<br />

onde a expansão da fronteira foi mais sentida<br />

ao final da primeira metade do século XVIII.<br />

Não se pode dizer que houve especialização<br />

em áreas específicas do termo, porém,<br />

algumas freguesias atestaram um maior<br />

movimento do mercado desse tipo de propriedade.<br />

Em Sumidouro as negociações de<br />

engenhos perfizeram 20,5% do total de<br />

compras e vendas nesta freguesia, em<br />

Furquim 24,5%, São Caetano 30,7%,<br />

Camargos 21,6% e em São José da Barra<br />

Longa o maior percentual: 37,5% das propriedades<br />

situadas nessa freguesia eram formadas<br />

por engenhos.<br />

A explicação para o fato, e que a aguardente<br />

encontrava rápida absorção no mercado local,<br />

o que incentivava o proprietário a dedicar mais<br />

espaços agricultáveis ao cultivo da cana, sem<br />

com isso deixar de lado a produção de gêneros<br />

agrícolas de subsistência como o milho e a<br />

mandioca, cultivos comuns na região. A diversificação<br />

do sistema produtivo e o grande<br />

apelo comercial da aguardente, sem desconsiderar<br />

o potencial mercantil que também havia<br />

na produção de alimentos, ocasionavam a<br />

necessidade da ampliação do espaço de<br />

cultivo por parte dos proprietários de engenhos.<br />

Assim, mais parcelas de capoeiras e<br />

matos virgens se tornavam ainda mais importantes<br />

nos engenhos que em qualquer outro<br />

tipo de propriedade.<br />

Divulção Dia da Cachaça


29<br />

Em contraste com as freguesias que apresentaram<br />

altos percentuais de negociações de<br />

engenhos, os lugarejos mais próximo da<br />

Vila/Cidade de Mariana como o Itacolomi<br />

foram pouco representadas nas compras e<br />

vendas de engenhos, tendo ambas as localidades<br />

o percentual de 10,3% dos seus totais<br />

de negociações. Outras nem sequer aparecem<br />

nos dados desse tipo de propriedade<br />

rural, como o distrito de Passagem.<br />

Comparando a referência aos matos virgens<br />

nas localidades apontadas temos que: no<br />

distrito da Passagem, talvez pelo relevo (onde<br />

não houve registro de negociação de engenho)<br />

2,2% das escrituras informaram a presença<br />

desse importante fator da reprodução<br />

agrícola, na área definida como Vila/Cidade de<br />

Mariana apenas 11%, percentuais baixos se<br />

comparados aos de Sumidouro (24,5%) e<br />

Furquim (30,9%), e um pouco menos destoantes<br />

(mas ainda sim inferiores) aos de São<br />

Caetano (14,7%) e de Camargos.<br />

Contudo, é importante lembrar que todas<br />

essas são áreas onde a mineração foi o fator<br />

essencial no processo de conformação do<br />

espaço agrário, que também agia como uma<br />

espécie de fronteira, ou fator limitador, da<br />

expansão da posse do produtor agrícola, o<br />

qual muitas vezes era também minerador.<br />

Conjugando as duas atividades, por mais<br />

benefícios que houvesse nessa diversificação<br />

e sem detrimento de uma pela outra atividade,<br />

poderia haver certa limitação do proprietário<br />

de terras rurais e minerais tanto no acesso a<br />

terras produtivas de plantio nos arredores das<br />

lavras- pois estas estavam quase sempre em<br />

poder de outro minerador/agricultor- quanto na<br />

posse dos escravos, cujo número nem sempre<br />

era força de trabalho suficiente para a ampliação<br />

da sua atividade em diferentes setores<br />

econômicos. Nesse caso, a formação das<br />

sociedades poderia cumprir o importante<br />

papel de fomentar a diversificação/aumento da<br />

produtividade pela divisão de custos e multiplicação<br />

dos investimentos.<br />

Assim, nas áreas onde foi possível expandir o<br />

espaço produtivo por compra de terras próximas,<br />

posse simples delas ou concessão de<br />

sesmaria houve maior registro de negociações<br />

de engenhos. O caso dos engenhos em São<br />

José da Barra Longa possui outro norteamento.<br />

Essa freguesia não sofreu o rápido e intenso<br />

povoamento de outras- como a freguesia da<br />

Vi l a / C i d a d e d e M a r i a n a , F u r q u i m e<br />

Sumidouro- que surgiram no encalço dos<br />

primeiros anos de exploração aurífera. A<br />

participação da Freguesia de São José da<br />

Barra Longa no mercado das propriedades<br />

rurais foi tardia, iniciando-se apenas na década<br />

de 1740. Como área de fronteira aberta<br />

tornou-se viável o acesso às terras ainda não<br />

ocupadas em maiores extensões do que nas<br />

propriedades rurais que se estabeleceram na<br />

circunvizinhança das lavras minerais dos<br />

principais núcleos de mineração.<br />

Fato é que, com maior ou menor presença<br />

pelas freguesias que compuseram o termo de<br />

Mariana no século XVIII, a fabricação da<br />

aguardente nos engenhos ― corrente e<br />

moentes foi uma das atividades produtivas<br />

agrícolas que mais interessou aos moradores<br />

da região. Veja o a tabela baixo entre 1711 e<br />

1790, Mariana teve 2017 engenhos de<br />

cachaça. Hoje o número de alambiques em<br />

Mariana dá para contar nos dedos.<br />

Divulção Dia da Cachaça


Parabéns Décio!<br />

Muitos Km de vida e esporte.

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